segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Cartões postais do Piauí estão ameaçados por falta de políticas públicas

Lagoa de Parnaguá
 Assim que assumiu o mandato no início de 2015, o governador Wellington Dias anunciou que o Piauí estava em crise hídrica. Na época ele chegou a afirmar que 300 mil pessoas no Estado precisavam de atendimento emergencial e que buscaria recursos para implementar obras para melhorar a situação. Se passaram quase seis meses e até o momento nada foi feito e a situação de pelo menos duas lagoas, uma no norte e outra no sul, chamam a atenção no Piauí.
No norte, a Lagoa do Portinho, que até pouco tempo atrás era ponto turístico por sua beleza e fascínio está ameaçada de desaparecer, pois devido à falta de chuvas e o processo acelerado de assoreamento, já chegou a sumir em sua superfície. Neste caso, o prefeito Florentino Neto, de Parnaíba, conta que a lagoa chegou a ficar totalmente seca, mas que desde o início deste ano ela voltou a encher, mesmo com as poucas chuvas. Preocupado com a situação, o gestor está em articulação com órgãos do governo estadual e federal para alavancar recursos a fim de que a lagoa não volte a secar. “Estamos acompanhando o nível pluviométrico e com a incidência das chuvas a situação melhorou bastante, mas é preciso cautela”, conta o prefeito. Ele cita ainda que até o momento só não houve total seca da lagoa por causa da sua ligação com o Rio Igaraçu. Ressalta que se não houver o cuidado necessário, a situação da lagoa vai voltar a se tornar preocupante. O prefeito de Parnaíba conta que mesmo a cidade sendo banhada pelos rios Parnaíba e Igaraçu, encontra dificuldades e muitas das comunidades precisam ser abastecidas por carros pipas.
Já a lagoa do sul do Estado que mais chama a atenção é a do município de Parnaguá. Desde o ano de 2013, a lagoa que era responsável pelo abastecimento da cidade, que possui mais de seis mil habitantes, secou em mais de 70% o seu volume, o que levou a prefeita a procurar meios alternativos para abastecer a população. “A cidade de Parnaguá vive hoje uma nova realidade, nossa luta constante e diária é levar água até a residência de cada morador, pois já não podemos mais captar o recurso da lagoa”, conta a prefeita Anna Cecília Rissi.
Ainda segundo a prefeita, o reserva da água que a lagoa ainda possui é muito suja e por isso eles precisaram perfurar pelo menos cinco poços artesianos para abastecer a cidade e que ainda não são suficientes. “Aqui é assim, se hoje tem água em uma parte da cidade, amanhã não tem. Alternamos o dia de ligar o abastecimento de água. Enquanto de um lado tem água, no outro não tem e assim sucessivamente”, explica Anna Cecília.
Piauí também desperdiça água
Enquanto algumas cidades do Estado sofrem com a falta de água, outras possuem o bem natural de forma exacerbada, como no município de Cristino Castro. No local, há poços que foram abertos ainda no final da década de 1970 para irrigar plantações de frutas, mas que permanecem jorrando água, mesmo hoje não existindo mais produção. Na região há 350 poços que jorram mais de 266 milhões de litros de água por dia, sendo que com essa quantidade de água, esses poços poderiam abastecer cidades como Cristino Castro, Queimada Nova, Jaicós, Betânia do Piauí e Guaribas. A Superintendência Regional do Serviço Geológico no Piauí chegou a apresentar em 2013 o projeto que prevê a Adutora do Sertão do Piauí ao Ministério da Integração Nacional e à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), mas a proposta não saiu do papel. A Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Naturais do Estado (SEMAR) informou ter conhecimento do projeto, mas ressaltou que ele não foi para frente, sem dar mais informações.
O projeto que tem o orçamento preliminar de R$ 842 milhões incluía a construção de uma adutora para distribuir a água de 37 poços para 51 cidades do semiárido piauiense, atendendo uma população de 600 mil habitantes. A adutora resolveria o problema da seca e custaria R$ 13 milhões a menos do valor aplicado pelo governo federal na medida paliativa de atender as famílias brasileiras em cidades com decreto de emergência.
Governador diz que estuda situação e que prioridade é a seca
Tendo assumido o mandato há menos de um semestre, o governador Wellington Dias se mostra bastante consciente do que ainda precisa ser feito com relação ao abastecimento de água em todo o Estado. Segundo ele, a prioridade são os municípios atingidos pela seca, descartando de imediato a recuperação de lagoas como a do Portinho e a do município de Parnaguá.
“Estamos trabalhando através da Secretaria de Defesa Civil a administração de quatro poços estratégicos do Estado localizados nas cidades de São Braz, Pedro Laurentino, Vera Mendes e São João da Canabrava. Eles foram construídos em 2014 e juntos têm capacidade para abastecer 600 mil pessoas. Cada poço tem vazão de 150 mil litros d’água por hora, mas até agora eles não estão sendo utilizados e é isso que vamos procurar fazer”, afirma o governador.
Com relação aos poços de Cristino Castro o governador afirmou que pretende avaliar mais a fundo o projeto para viabilizar a sua execução, verificar os custos, quanto seria aplicado de verba federal e qual seria a contrapartida do Estado. Já com relação a todos os outros poços do Estado, ele conta que a intenção “é trazer o controle dos poços para o governo estadual para, a partir daí, construir adutoras para levar a água deles a diversos municípios do semiárido”, afirma. Ainda de acordo com o governador, já existe projeto elaborado em parceria com a Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM).
O governador garantiu também que vai articular com órgãos federais como a Conab, Funasa e a CPRM para discutir a situação. “Não podemos aceitar a falta d’água com a capacidade hídrica que temos. Vamos procurar solucionar esse problema dando utilidade a esses poços. Com a construção de adutoras pretendemos levar a água aos municípios onde ela falta”, assegura Wellington Dias.
Para também ajudar neste ponto da falta de água, o presidente da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), José Márcio de Medeiros, que esteve na APPM em abril, conta que vem trabalhado para ajudar a amenizar a falta de água em algumas regiões do Estado. “Estamos suprindo a necessidade de água potável de algumas famílias com a implementação de chafarizes, cisternas e poços. Temos ainda projeto de açudes e barragens”, explica o presidente.
Presidente do DNOCS afirma que o Piauí não passa por crise hídrica
A chamada “crise hídrica” no País ganhou grande divulgação nacional, quando os reservatórios de água do maior estado do Brasil, São Paulo, começaram a apresentar quedas frequentes, o que levou os paulistanos a ficarem inclusive sem água durante semanas. No Piauí, o problema com relação a água não é a crise hídrica, mas sim a seca em algumas regiões, como garante o coordenador do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) no Piauí, Aluísio Ferro.
Segundo os números apresentados por ele, o Estado não sofre com a crise hídrica, mas sim possui alguns locais isolados que precisam de mais atenção dos gestores públicos. “O boletim que fizemos no dia 25 de fevereiro mostrava que a média dos nossos açudes era de 38,68% e no que fizemos no dia 10 de abril já mostra que os rios ou riachos já estão com a capacidade de 43,02%”, mostra o coordenador.
Ele conta que o DNOCS é responsável por 25 açudes e que outros 20 são de responsabilidade do governo do Estado, porém ressalta que todos estão na mesma situação. “Não estão em sua capacidade máxima, mas isso também não significa que possamos dizer que estamos em crise”, afirma Aluísio Ferro. Ele assegura que dos 25 açudes de responsabilidade do DNOCS, de cinco a seis requeiram um pouco mais de cuidado. “Na região de Picos e de Bocaina estão precisando de uma atenção especial. Lá preocupa por causa das chuvas, mas não é nada alarmante”, afirma o coordenador.


Lagoa do Portinho

Fonte: APPM


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