sábado, 22 de agosto de 2020

BEBAM APENAS COMO LAXANTE!

Pedro Paulo Tavares, escritor
 

Texto extraído do livro Chegou hoje? Quando volta?, escrito por Pedro Paulo Tavares de Oliveira


Fugindo do calor escaldante de Gilbués, eu, meu mano Ribinha, nossos amigos Adelardo Manga Larga, Claudio Moraes e Raimundo Rosa Choque Ltda, fomos passar o fim de semana na Vereda Comprida, propriedade do Mano Velho, por onde outrora corria caudaloso brejo. Atualmente seco, ele só refaz o antigo percurso quando o inverno é generoso e garante água por alguns meses. O mesmo destino teve o brejo da Pindaíba, ambos vítimas da devastação do meio ambiente. Heroicamente, na mesma região ainda resistem os brejos da Salina, Cachoeira e São José.

Pretendíamos ir até a Cachoeira, antiga propriedade de Manoelzinho "Três Cabeças", hoje pertencente à família Paiva. A bordo do Dengoso, valente jipe Toyota do nego Raimundo Rosa, paramos na Mercearia Santo Antonio, do Barra Velho, pra pegar arroz, sal e a carne seca do tira gosto. Não estávamos preocupados com alimentação, pois na Vereda Comprida comeríamos galinha caipira servida nas louças limpíssimas de Neusa, esposa do vaqueiro Zé Buena, o Zé de Neusa.

Nossa atenção maior prendia-se à provável chiadeira do Mano Velho com os dez litros que pretendíamos levar do aguardente Old Cesar 88, cachaça em voga no momento, originária de Jundiaí, São Paulo. A cachaça era "pra derrubar os carrapatos", como diria Dalton Barreira.

No caminho, pausa no Boqueirão para beber as sete cervejas que cabiam no congelador da velha geladeira do bar de José Aniceto, o  Zé Bate-Pau", na companhia de nossa prima Deusamir, integrada à turma a partir dali. O bar era famoso pela cerveja cu de jia e pela higiene duvidosa dos copos submersos numa bacia e enxaguados à medida que Bate-Pau servia melosa, calunga, pau-da-vitória, pau de Moisés e outras raízes misturadas com cachaça.

Quando se reclamava do lodo que surgia na bacia, ele respondia: "Deixa de frescura, vocês foram criados bebendo água do riacho". Para provocá-lo ainda mais, lhe estendíamos a mão, pedindo benção: "Bença meu tio". Avesso a esse costume, ele retrucava: "Me respeita safado, vai pedir benção pro seu pai".

Ainda em Gilbués, no momento da saída, cada um com dois litros de 88 nas mãos, não conseguimos nos livrar da bronca de Cavouqueiro, que surgiu de repente e nos flagrou com a boca na botija. Logo sapecou a seguinte pergunta:

- Os meninos vão botar um boteco aonde"?

Sem jeito, lhe explicamos que iríamos à Vereda Comprida e depois à Cachoeira para aquele banho regenerador. Ele entendeu, mas deixou outro alerta:

-Muito bem turma, mas bebam apenas como laxante suave!




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