terça-feira, 22 de janeiro de 2019

"Não mataram só ela, mas toda família" diz irmã de professora morta em faculdade


"Não mataram só ela, mas toda a família". Esse é o desabafo da enfermeira Andreia Macedo, irmã da professora Adriana Macedo Borges dos Santos que morreu com um tiro na cabeça em uma faculdade no município de Corrente ( a 874 km de Teresina). O crime ocorreu em setembro de 2009, mas o julgamento irá acontecer nesta quarta-feira (23), quase 10 anos após o crime. 
"Na verdade, não mataram só a Adriana, mas toda a família. Meu pai teve um infarto fulminante. Chorava todos os dias olhando pra um banner que mandou fazer com a foto da minha irmã. Minha mãe também não é a mesma pessoa e passou a depender da gente pra tudo, pois não tem mais condições de ficar sozinha. A Adriana só tinha 24 anos e teve todos os sonhos interrompidos, inclusive o de ser mãe", desabafa a irmã. 

 O crime teve grande repercussão na época. O acusado de ter efetuado o disparo é Arnaldo Alves Messias, que lecionava na mesma faculdade da vítima com quem manteve um relacionamento de quatro anos. O crime teria sido motivado por ciúmes e pelo término do namoro.
Contudo, a família de Adriana acredita que o crime foi premeditado. Além de professor, Arnaldo Messias é advogado e primo do prefeito de Cristalândia. 
"Eles já não estavam namorando há cerca de quatro meses. Minha irmã foi à faculdade acreditando que ia assinar uns documentos e se deparou com ele [Arnaldo] e o irmão dele que a segurou pelo braço. Ele [Arnaldo] atirou na Adriana e depois deu um tiro de raspão nele mesmo para tentar fugir. O tiro não foi acidental", acredita a irmã. 
Ao Cidadeverde.com, ela destaca o sofrimento da família e a esperança de que "o crime não ficará impune". 
"Isso deles estarem em liberdade, dói mais ainda. Não é fácil! desde quando foi marcado o julgamento, nosso sofrimento só aumentou, mas é uma dor que temos que passar. Já estamos nos preparando psicologicamente para isso. Primeiramente, temos fé em Deus e acreditamos que será feita Justiça aqui na terra. A Adriana não volta, mas se eles forem condenados e presos, vamos conseguir dormir", desabafa Andreia Macedo. 
Ela não confirma que a irmã sofria agressões físicas e psicológicas, mas que Adriana teria revelado a outros familiares "que vivia assustada e amedrontada". 
(Foto: Roberta Aline/ Cidadeverde.com)
"A gente conhecia ele como uma pessoa de poucas palavras. Ele mandava mensagens ameaçadoras, mas ela nunca falava para a família. Contudo, amigas contaram que ela queria terminar, mas tinha medo, por isso, sequer registrou o caso na delegacia e dizia que preferia morrer a ficar com o Arnaldo. Existem dois lados; mas só uma verdade", desabafa a irmã.
O júri popular está marcado para a quarta-feira (23) no Fórum da Comarca de Corrente, às 9h. 
estar no julgamento, usar camisetas e fazer tudo o que é permitido. A Justiça será feita e eles serão condenados. Esse crime não vai ficar impune porque Deus  é maior", acredita Andreia Macedo. 
Caso seja condenado, não incidirá a qualificadora do feminicídio, pois a lei que aumentou o intervalo de pena para homicídios de mulheres [12 a 30 anos]  por  questões de gênero, só passou a valer em 2015. Arnaldo e o irmão Renato Evilásio Alves Messias são acusados de homicídio qualificado por motivo torpe e recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima. 
Advogado Silas Barbosa fará sustentação oral no Tribunal do Júri
CRIME CRUEL E PREMEDITADO
Segundo Silas Barbosa de Menezes, um dos assistentes de acusação, o crime foi bárbaro, premeditado e os acusados agiram de forma pusilânime. 
"Foi um crime com requintes de crueldade, premeditado em que o acusado se utilizou do fato de ser operador do direito e de família tradicional para buscar um álibi que possa servir para argumento para uma possível absolvição", disse o advogado.
Silas Barbosa ressalta que os acusados não ofereceram possibilidade de defesa a vítima e que a tese do disparo acidental é insubsistente. 
"Eles agiram de maneira impiedosa, sem dar direito de defesa a jovem que, por sua própria natureza física, era frágil. A sociedaede de Corrente não pode manchar as páginas de sua história com a absolvição de dois acusados que são frios, calculistas e nocivos a sociedade. A sociedade clama tanto por Justiça e critica a falta de segurança. Chegou o momento dessa mesma sociedade fazer Justiça e condenar os dois acusados por um crime que não pode servir como parâmetro ou incentivo para que casos da mesma natureza venham a ocorrer futuramente", completa Silas Barbosa de Menezes.
TESTEMUNHA OCULAR
O advogado Ricardo Amorim, que também é assistente de acusação, reforça a tese de que o crime foi premeditado. Segundo ele, materiais apreendidos no carro de Arnaldo e que constam no inquérito policial, indicam que o acusado, possivelmente, pretendia raptar a vítima.
(Foto: Roberta Aline/ Cidadeverde.com)
"No bagageiro do carro dele tinha fita adesiva, correntes, cordas, cadeados, ou seja, elementos que evidenciam a premeditação. Isso levou a polícia a entender que o objetivo inicial não era matá-la ali, mas raptá-la, levá-la para um outro local e eventualmente  matá-la. Contudo, por alguma razão, que a gente desconhece, ele a matou na faculdade", disse o assistente de acusação.
Ricardo Amorim disse ainda ao Cidadeverde.com que uma testemunha ocular é peça-chave no julgamento. 

"Essa testemunha ocular estava na janela de casa e conta que viu o irmão de Arnaldo puxando a Adriana pelo braço. O julgamento demorou tanto tempo porque eles são pessoas influentes na região. A moto dela nunca mais apareceu e isso levanta suspeitas que quiseram ocultar provas, justamente, porque na moto ia ter digitais, provas mais contundentes da participação do irmão de Arnaldo", completa Ricardo Amorim.
Fonte: CidadeVerde

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